A palavra lateralidade tem sua origem no termo latus que, em grego, quer dizer lado.
Assim, define-se por lateralidade a sensação que
permite ao indivíduo perceber que seu corpo é constituído por duas metades e
que não são exatamente iguais. Trata-se de um conceito que implica a
organização espacial e, principalmente, o reconhecimento das coordenadas
espaciais como frente, atrás, alto, baixo mas, sobretudo, direita e esquerda à
partir do próprio indivíduo ou de um ponto de referência no espaço ou no plano.
A noção
de lateralidade é formada de maneira lenta e progressiva e apresenta aspectos
muito complexos no que tange a aquisição do dextrismo e sinistrismo pelo
indivíduo. Com base nisto, não se pode considerar um elemento dextro apenas
porque existe nele uma preferência para desenvolver um trabalho com o membro
superior direito; é preciso, também, levar em consideração os membros
inferiores, os olhos e a observação deve ser feita durante o transcurso de uma
atividade. Por esta razão, a noção de lateralidade dominante é muito
controvertida, o que existe, segundo Finger (1986),
realmente no indivíduo, é uma dominância lateral determinada pelas funções
neurológicas, mas que funcionalmente é relativa.
Mas
quando se define a lateralidade? De
acordo com Brandão (1984), desde quando a criança deixa de fazer a aproximação
bimanual e passa a segurar objetos tanto com a mão direita como com a esquerda,
isto é, após o 7º mês de vida, até que se instale a dominância definitiva, a
preferência por uma das mãos flutua de um lado para o outro, sendo muito
difícil precisar o momento exato da evolução em que a lateralidade se define.
Entretanto, desde o fim do primeiro ano de vida, a lateralidade começa a se
evidenciar. Na maior parte das crianças, a preferência por uma das mãos, por
exemplo, já está estabelecida entre 18 meses e 2 anos mas, só se pode
considerara a dominância constituída, de forma definitiva, entre os 5 e 7 anos
de idade.
Alguns estudiosos como, por exemplo, Gesell,
acreditam que desde o período do Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA) já
existe preferência para um dos lados, isto porque, estudos realizados apontam
que o braço do lado para o qual a cabeça predominantemente se volta e desperta
a resposta involuntária (reflexa) corresponde à mão dominante.
Brandão (1984)
afirma que a lateralidade manual dominante pode ser reconhecida por três tipos
de provas, são elas:
1) verificando-se qual das mãos é usada,
de forma preferencial, nas atividades da vida
diária;
2) verificando-se qual das mãos é mas hábil e rápida para executar uma
tarefa; e,
3)
verificando-se qual das mãos é
usada mais espontaneamente durante uma atividade
que exija a participação das
duas mãos (exemplo: dar as cartas do baralho). Neste
último tipo de prova, a
mão não dominante tende a ser a que fixa os objetos sobre os
quais a ação é
executada a fim de permitir e auxiliar o bom exercício da mão
dominante.
Do mesmo
modo que existe lateralidade manual dominante, isto é, a preferência por uma
das mãos, nos indivíduos ditos normais,
existe, também, uma nítida preferência por um dos pés (lateralidade podal
dominante), para dar início à marcha, para subir um degrau, para chutar,
etc. Ainda segundo Brandão (1984), para se avaliar a preferência por um dos pés,
podemos nos servir de várias provas, são elas:
1) provas que evidenciam o uso
preferencial de um dos pés (a- chutar uma bola, colocada no chão, a 20 cm
aproximadamente à frente, e exatamente na linha média entre os dois pés. Prova
para crianças entre os 18 meses e 5 anos. A lateralidade dominante podal corresponde
ao pé que executa o chute); b- prova das barras de equilíbrio aonde se verifica
qual o pé que a criança preferentemente inicia o passo nas barras. Prova para
crianças entre 3 e 6 anos de idade; c- prova do jogo da ‘amarelinha” aonde a
preferência pelo pé com que a criança se mantém ao solo e pula nos sinaliza a
lateralidade dominante; e, d- o modo como uma criança sobe num tamborete e
corresponde a uma prova também de equilíbrio e força. O pé escolhido para subir
corresponde ao pé dominante).
•Para que
o resultado possa ser válido nas duas primeiras provas (a e b), é necessário
que a criança chute ou
inicie a marcha com o mesmo pé pelo menos um número de
vezes superior a 2/3 do
número total de experiências executadas.
2) provas em que se evidencia o melhor
equilíbrio sobre um dos pés (a- ao andar nas
barras de equilíbrio, o número de
vezes que a criança perde o pé direito ou esquerdo,
indica em que membro
inferior ela tem maior equilíbrio; b- o jogo da “amarelinha”
quando é pedido à criança par repetir a jogada com a
outra perna e é observada as
condições de equilíbrio e, consequentemente, em
qual das pernas a atividade é
executada com maior eficiência; e, c- a maneira
como a criança permanece sobre um
pé só. Prova para criança entre 30 meses e 5
anos).
Ainda em
se tratando do assunto “lateralidade”, não se pode deixar de mencionar a
lateralidade preferencial ocular. Brandão (1984) defende que existe uma nítida
preferência em olharmos com um dos olhos e que, comumente, também temos maior
facilidade em fechar um olho que o
outro.
Independente
de qual
seja a lateralidade (manual, podal ou ocular),
ainda de acordo com Brandão (1984), o fato é que é de extrema
importância a sua afirmação. Isto acontece porque há certos fatos
que devem ser destacados:
1) são poucas as atividades em que os dois segmentos (as duas mãos ou os dois
pés)
executam os mesmos movimentos;
2) sempre que a lateralidade não está
muito bem definida e que o indivíduo é
ambidestro, há: a- de alguma maneira,
diminuição da habilidade; b- aparecimento de
sincinesias por
imitação; c- desfavorecimento no
desenvolvimento das funções
intelectivas, no ajustamento emocional e afetivo,
refletida, muitas vezes, num atraso
de linguagem e em alterações da escrita;
3) o verdadeiro canhoto é tão hábil
quanto a pessoa destra;
A ambidestria não pode
ser tolerada porque pode acarretar inúmeros prejuízos.
Conforme defende Brandão (1984) ela,
realmente, prejudica profundamente a
criança no seu desenvolvimento. No
indivíduo com a dominância do olho e da mão
invertida (por exemplo, dominância
manual direita e dominância ocular esquerda),
podem surgir, também algumas
perturbações e dificuldades, principalmente em
relação à aprendizagem da leitura e da
escrita.
Por fim, se uma criança é destra, ela
deve continuar como destra e, se ela for sinistra,
não há nenhum inconveniente
em que ela continue como canhota. O importante é
definir a lateralidade e
não permitir que a criança ambidestra, continue ambidestra,
sem ter conseguido definir
a sua dominância de modo normal.
O conhecimento da lateralidade tem uma
grande importância para nos orientarmos e
podermos localizar os objetos nos
espaços. Existe sim, uma relação bem estreita entre
lateralidade e estabelecimento das
relações espaciais.
O conhecimento da lateralidade tem uma
grande importância para nos orientarmos e
podermos localizar os objetos nos
espaços. Existe sim, uma relação bem estreita entre
lateralidade e estabelecimento
das relações espaciais.
(Texto escrito por Dra. Sacha Queiroz –
Terapeuta Ocupacional)
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